Segundo a Organização da Nações Unidas (ONU), o ano de 2021 pode testemunhar uma crise humanitária profunda, que deve afetar 235 milhões de pessoas no mundo todo. Apesar dos esforços das grandes nações para o desenvolvimento de vacinas contra COVID-19, existe um temor por parte da organização de que ela não seja acessível a todas as classes sociais igualitariamente.
Apesar das projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial e outras instituições financeiras indicaram o começo de uma certa recuperação econômica mundial para 2021. A Organização ressalta que a pandemia vai gerar impactos a longo prazo para os grupos mais vulneráveis e populações que já viviam em situações críticas.
Em resposta a essas crises desencadeadas pela COVID-19, a ONU está criando uma operação de resgate que vai demandar US$ 35 bilhões para socorrer as comunidades em estado crítico em países como a Afeganistão, Colômbia, Haiti, Iêmen, Paquistão, Síria, Venezuela, Ucrânia e outros países. Ao todo, 56 países vão precisar de ajuda internacional.
Em uma pesquisa publicada pela organização na nesta terça-feira (01/12), a pandemia impactou a vida das pessoas em todo o globo. “Aqueles que já vivem no fio da navalha estão sendo atingidos de forma desproporcionalmente dura pelo aumento dos preços dos aumentos, queda do rendimento, programas de vacinação interrompidos e fechamento de escolas” explica.
Além de tudo, outro grave problema que a ONU tem enfrentado é a falta de recursos. De acordo com o secretário-geral da ONU, Antônio Guterres, a crise da COVID-19 está longe de terminar. Apesar da contribuição de doadores internacionais com o montante recorde de US$ 17 bilhões, as demandas têm aumentado em tais proporções que as doações continuam a ser menos de metade do que a entidade e outras instituições parceiras precisam.
Aprofundamento de abismos sociais
Mark Lowcock, chefe humanitário da ONU, ressalta a necessidade de um movimento cooperativo para que todas as nações possam sair da crise da COVID-19. Enquanto os países ricos têm apresentado melhoras, a pandemia acentuou os índices de pobreza e aumentou as necessidades humanitárias nos países mais pobres. De acordo com Lowcock, a organização deve precisar de US$ 35 bilhões para combater a pobreza, evitar a fome e a evasão escolar.
Segundo o informe da ONU, “a COVID-19 desencadeou a recessão global mais profunda desde a década de 1930. A pobreza extrema aumentou pela primeira vez em 22 anos, e o desemprego aumentou dramaticamente. As mulheres e os jovens entre os 15 e os 29 anos que trabalham no setor informal estão sendo os mais atingidos. O fechamento das escolas afetou 91 por cento dos estudantes em todo o mundo”.
A previsão da entidade para o fim de 2020 é que o número de pessoas em situação de insegurança alimentar aguda seja de 270 milhões. A pandemia, somada as alterações climáticas estão agravando os problemas nos sistemas alimentares ao redor do globo. A organização estima que serão necessários US$9 bilhões para amenizar essa situação.
Além disso, de acordo com uma pesquisa da ONU, a crise da COVID-19 tem gerado dificuldades de acesso a serviços de saúde essenciais em todos os países. “Mais de 5 milhões de crianças com menos de 5 anos de idade enfrentam as ameaças da cólera e da diarreia aguda. A pandemia pode acabar com 20 anos de progresso na luta contra o HIV, tuberculose e malária, duplicando potencialmente o número de mortes anuais”, expôs.
Vulnerabilidades acentuadas pela COVID-19
O informe sobre a Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e Caribe, notificou que no início do ano que vem 2021, cerca de 231 milhões dos 656 milhões de habitantes da região vão estar em situação de pobreza.
Dados da ONU advertiram sobre a situação da América do Sul, onde a crise da COVID-19 apresenta sérios riscos de proteção a população. A pandemia afetou as economias informais e reduziu os recursos de subsistência e o acesso das pessoas aos alimentos básicos. A entidade considera que em 2021, essa região vai demandar um número maior de esforços de resposta humanitária adaptáveis.
Além disso, a ONU alertou sobre as consequências que serão geradas pelas crises econômicas locais como: aumento dos fluxos migratórios, insegurança alimentar, preocupações de saúde e proteção. Todo esse cenário vinculado a altos níveis de instabilidade e riscos naturais, com relações políticas instáveis e conflituosos.
Crise global de doenças mentais
A diretora do departamento de saúde mental da Organização Mundial de Saúde (OMS), Devora Kestel, disse que o isolamento, o medo, a incerteza e a turbulência econômica ocasionada pela pandemia contribuem para o desenvolvimento de problemas psicológicos. “A saúde mental e o bem-estar de sociedades inteiras foram severamente afetados por esta crise e são uma prioridade a ser tratada com urgência”, alerta.
Em relatório apresentado por especialistas em saúde da ONU evidenciou as regiões e os grupos sociais mais vulneráveis a terem consequências mais severas de saúde mental. Casos de depressão e ansiedade tem aumentado em vários países. Situações como a exposição diária dos profissionais de saúde a milhares de pacientes infectados com COVID-19 e o isolamento social das crianças e adolescentes foram considerados na pesquisa.
Além disso, a falta de informações, rumores e a incerteza sobre quanto tempo vai durar a pandemia tem contribuído para os quadros de ansiedade e falta de perspectiva das pessoas com relação ao futuro.
*esse texto foi embasado na reflexão feita pelo Colunista da UOL, Jamil Chade.