Apagar memórias sempre foi coisa de filmes de ficção científica. Afinal, suas experiências são solidificadas em sua cabeça como parte de seu passado, talvez até moldando sua personalidade. Mas uma pesquisa mostrou que, quando se trata de memórias traumáticas, é possível ‘apagar’ a lembrança.
A equipe convidou 50 participantes para ver duas histórias apresentadas em apresentações de slides. Alguns dos slides apresentavam conteúdo aversivo enquanto uma voz narrava a história. O objetivo era estimular as emoções negativas associadas ao trauma.
Assim, a primeira história mostrava um menino sendo ferido mortalmente em um acidente de carro. A outra era sobre o sequestro e agressão de uma jovem. Os pacientes tiveram uma semana para consolidar suas memórias das duas histórias antes do teste.
Pouco antes de sua cirurgia de endoscopia, que exigia o anestésico propofol, a equipe mostrou o primeiro slide de cada história para os voluntários e pediu alguns detalhes na narrativa – agindo como ganchos verbais para pescar a memória associada.
Uma vez reativados, os pacientes receberam imediatamente uma dose de propofol em suas veias e os cirurgiões realizaram a endoscopia em seguida.
‘Agentes de limpeza da memória’
Estudos anteriores com outros “agentes de limpeza de memória”, incluindo o propranolol (fármaco anti-hipertensivo), são frequentemente administrados antes de desencadear a memória.
Isso confunde as coisas, explicam os autores, porque as drogas podem impedir temporariamente as pessoas de recordar uma memória, em vez de desestabilizá-la.
Para confirmar ainda mais que o propofol está corrompendo a memória, os cientistas separaram os voluntários em dois grupos. Em um deles, eles testaram a capacidade dos participantes de recordar ambas as histórias 24 horas após o tratamento medicamentoso.
No outro, eles testaram as memórias dos participantes imediatamente após o despertar da cirurgia. A partir de estudos em animais, sabemos que a reconsolidação da memória leva aproximadamente um dia. Foi o que a equipe descobriu: os do segundo grupo, sem dar tempo suficiente para atrapalhar a memória, lembraram de tudo.
O primeiro grupo, tendo tempo suficiente para as drogas fazerem sua mágica, lembrou-se perfeitamente da história não reativada. No entanto, embora pudessem se lembrar das partes neutras da história reativada, eles lutaram para lembrar as partes mais chocantes.
Avanços identificados
A equipe por trás do estudo ainda afirma que uma história perturbadora obviamente não reflete completamente seu próprio trauma pessoal.
Embora o estudo seja um avanço em relação a pesquisas anteriores que eliminam simples medos aprendidos, ainda está muito longe de imitar todas as complexidades da vida real do transtorno de estresse pós-traumático, em que um cheiro de algo familiar pode desencadear um tsunami de memórias.
Vale lembrar ainda que, em 2015, pesquisadores da Universidade de Medicina de Toronto também descobriram que os anestésicos podem causar a perda de memória em longo prazo, garantindo que não se lembrem de eventos traumáticos durante a cirurgia.