A língua portuguesa falada no Brasil é a mesma em qualquer parte do país. Mas o jeito de falar, o sotaque, esse, sim, é muito diferente. Lembrando que não há um sotaque certo, errado, melhor ou pior que o outro. O que existem são maneiras que aprendemos a falar com nossos pais, amigos e familiares, que aprenderam com seus antepassados, que por sua vez aprenderam com os seus e daí por diante.
A diversidade de sotaques existente no Brasil se dá pelo fato de o país ter se formado por povos de vários continentes como: os nativos indoamericanos, africanos e imigrantes europeus. O idioma luso foi se transformando ao mesmo tempo que os povos se misturavam ou se isolavam ao ocupar o território.
O português que hoje falamos é o resultado do que foi preservado boca a boca e nos registros de quem detinha o poder, e o do que era mais conveniente pronunciar.
A seguir, confira a origem de alguns sotaques brasileiros.
Pronúncia do R
Quando os portugueses chegaram ao Brasil, perceberam que havia mais de 1.200 idiomas indígenas e que os indígenas não falavam três letras, quais sejam F, L e R.
Os indígenas tinham dificuldade para pronunciar o R dos colonizadores. Essa dificuldade, por sua vez, acabou originando ao que chamamos de R caipira.
Esse sotaque está presente no interior de São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina, ou seja, estados que fizeram parte do percurso dos bandeirantes paulistas.
A pronúncia do R começou a mudar quando a capital paulista recebeu os imigrantes italianos entre o fim do século 19 e o início do século 20. A pronúncia porrrta virou algo como “porita” com um R seco, que faz língua vibrar atrás dos dentes.
Os gaúchos e moradores de regiões paranaense e catarinenses que foram colonizadas por italianos também falam esse R vibrante.
Outro jeito brasileiro de pronunciar o R surgiu quando, em 1808, Dom João João 6º desembarcou no Rio de Janeiro e trouxe junto com ele uma tripulação de 15 mil patrícios que seriam responsáveis por definir o sotaque local.
Na época, a corte portuguesa pronunciava o R como se a consoante saísse do fundo da garganta, tal como os franceses faziam. A elite carioca então logo começou a imitar a pronúncia. Foi assim, na contramão do R caipira e 100% brasileiro, escolheram o R importado da Franças pelos portugueses.
Pronúncia do S chiado
Assim como aconteceu com a pronúncia do R, a comitiva que foi junto com a Coroa Portuguesa ao Rio de Janeiro espalhou o S com um som de SH que, em contato com os inúmeros dialetos africanos dos escravos, ganhou mais força.
Há registros que comprovam que o português culto dos séculos 16 e 17 já reproduzia o fonema dessa forma. Esse fonema, por sua vez, está presente no Rio de Janeiro, em Belém e Florianópolis, cidades completamente distantes.
Isso comprova que a formação histórico cultural é age de forma mais importante na definição da variação dos sotaques do que a localização geográfica.
As regiões Norte e Sul começaram a ser receber, a partir do século 17, imigrantes da Ilha dos Açores e da Ilha da Madeira, lugares nos quais é comum que o S tenha o som de SH.
Pronúncia do E
A partir do século 19, Curitiba começou a receber italianos, ucranianos e poloneses. Esses dois últimos povos falavam idiomas que não tinham vogais, fato que estimulou uma pronúncia mais pausada de letras como o “E” para que as pessoas que viviam na cidade entendessem o que falavam esses imigrantes e vice-versa. O folclórico “leitê quentê” curitibano surgiu dessa forma.
Outras pronúncias que também contribuem para a diversidade do português brasileiro são variações de pronúncias de vogais após T e D. Em Pernambuco, na Paraíba e no Rio Grande do Norte, a língua fica atrás dos dentes ao falar o T e o D, por exemplo: o djia vira Día e tchio vira Tío.
Embora o idioma que os portugueses trouxeram para o Brasil a partir do descobrimento seja muito diferente do que se fala em Portugal, alguns lugares do país conseguiram preservar traços do sotaque português.
Como exemplos têm-se Cuiabá e outras cidades do interior do Mato Grosso. Nesses lugares, é comum ouvir moradores falando de um jeito diferente. Os portugueses que exploraram a região durante o século 17 vinham do norte de Portugal e inseriam T antes do CH e D antes do J. E até hoje cuiabano chamam feijão de “fedjão”.