Anualmente no mês de novembro, os trabalhadores com carteira assinada começam a receber o décimo. Contudo, a crise provocada pela COVID-19 vai causar a redução do 13º salário deste ano. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) estima que essa parcela extra deva injetar R$ 208 bilhões na economia. Ainda assim, o valor é 5,4% menor do que foi pago em 2019.
De acordo com João Gondim Neto, economista e planejador financeiro, a baixa no valor aconteceu em razão das mudanças ocasionadas pela MP 936. Essa medida concedeu a suspensão de contrato como alternativa para assegurar postos de trabalho.
O Ministério da Economia estima que aproximadamente 9,7 milhões trabalhadores fizeram acordos permitidos pela Medida Provisória. Do total, 8,3 milhões de colaboradores tiveram seu contrato suspenso ao longo do período entre abril e outubro.
“O 13º será reduzido para muitos trabalhadores, neste ano, porque ele é calculado com base nos meses em que o trabalhador prestou serviço por mais de 15 dias e, como houve suspensão do contrato de trabalho, a expectativa é de que os meses em que o colaborador não trabalhou não sejam contabilizados e, consequentemente, vai impactar o valor a ser recebido”, explicou o economista.
Perigo da segunda onda da COVID-19
O economista e planejador financeiro, Gondim Neto, recomenda que os trabalhadores que tiveram contrato suspenso por algum tempo façam sérias adequações em seus orçamentos. Segundo Gondim, essa é uma forma de se prevenir caso aconteçam novas reduções.
Existe a probabilidade de existir uma segunda onda da COVID-19, exigindo novo isolamento social. Novamente, a redução do 13º salário e possíveis baixas nos salários no ano que vem podem impactar as contas dos trabalhadores.
“A Europa passa por uma segunda onda e alguns países enfrentam por uma nova fase de lockdown. Com a eleição do Joe Biden nos Estados Unidos, há uma tendência de que o novo presidente também tome medidas mais restritivas e que podem ser seguidas no Brasil, já que é esperada uma nova onda no próximo ano”, disse Gondim.
Considerações no cálculo do 13º salário
Para os colaboradores que trabalham alguns meses, o cálculo do 13º vai resultar em valores proporcionais ao tempo de trabalho. Isso que, os valores são calculados com base no salário mensal dividido por 12 (número de meses do ano) e multiplicado pela quantidade de meses que o empregado trabalhou por mais de 15 dias.
Por exemplo, quem trabalhou o ano inteiro com salário mensal de R$ 1.900, o valor da primeira parcela vai ser de R$ 950. No caso daqueles que trabalharam quatro meses e com salário de R$ 1.900, devem receber a primeira parcela de R$ 316,66. Além disso, o trabalhador pode solicitar ao empregador que o pagamento da primeira parcela do 13º salário seja feito junto com o valor das férias.
Depois da segunda parcela, o restante dos valores do 13º salário é pago com descontos de contribuições sociais, como: Previdência Social (conforme tabela); Imposto de Renda (conforme tabela progressiva, os rendimentos até R$ 1.903,98 estão isentos da retenção do imposto) e Pensão alimentícia (se houver).
Para caso dos trabalhadores que recebem comissão, o cálculo do valor do 13º salário leva em consideração a média dos valores recebidos pela pessoa de janeiro a outubro (primeira parcela) e de janeiro a novembro (segunda parcela). Na hipótese de o colaborador receber comissões em dezembro, o valor vai ser recalculado da diferença do 13º salário. Essa quantia deve ser depositada até o 5º dia útil de janeiro do ano seguinte.
Para os que trabalham sem horário fixo (trabalhador intermitente), os valores do 13º salário são pagos de forma proporcional no fim de cada serviço prestado, contando com o salário e férias. Nesse caso, o valor extra não é pago no final do ano.
Como fazer um bom planejamento financeiro
Considerando a redução do 13º salário, o planejador financeiro e economista, João Gondim Neto orienta que as pessoas organizem seus orçamentos domésticos para arcar com despesas e dívidas sem contar com esse valor extra no final do ano. Aí vão, algumas medidas que podem te ajudar a organizar suas finanças:
- Você realmente precisa? – se questione se há uma necessidade real de comprar algumas coisas ao longo do ano (roupas, calçados e acessórios). Mas também frise essa pergunta no Natal, o apelo consumista natalino é alto, o que leva as pessoas a fazer compras desnecessárias;
- Evite parcelamentos – desse modo, o seu ganho futuro não vai estar comprometido com gastos do passado;
- Poupe para comprar à vista – um ponto positivo é que nas compras à vista é possível conseguir boas condições de negociar um desconto. Além disso, ainda que a taxa de juros esteja baixa para o rendimento das poupanças, existem opções de investimentos que podem melhorar o seu lucro. Desse modo, o seu dinheiro vai render enquanto junta o montante necessário para comprar as coisas que precisar;
- Economize para as despesas anuais – ao invés de esperar o 13º salário para fazer o pagamento o IPTU, o IPVA ou o material escolar das crianças, calcule essas despesas anuais e divida por 12 e poupe esse valor mensalmente;
- Se prepare com antecedência – a dica anterior já pode ser executada no começo de 2021, dessa forma no final do ano será possível ter o valor total do 13º salário livre para usá-lo como quiser;
- Empréstimo em último caso – no caso da redução do 13º ser muito brusca e a pessoa realmente precisar de dinheiro para atender a muitas demandas importantes, é aconselhável considerar um empréstimo para pagar as contas essenciais;
- Crie uma reserva – separe uma quantia de, pelo menos, dois meses dos seus gastos e deixe esse valor guardado na poupança ou em um Certificado de Depósito Interbancário (CDI). Essa reserva pode ser usada em caso de aumento de despesas ou redução de lucro, para evitar que o orçamento entre no vermelho.