Até dezembro deste ano, o Brasil perderá mais que o dobro de investimento estrangeiro em comparação ao que foi registrado em 2019. Segundo o estudo do Institute Internacional Finance (IIF), o país sofrerá uma retirada de ações e título da dívida de US$ 24 bilhões (R$ 134 bilhões), ante os US$ 11,1 bilhões (62 milhões) que foram retirados no ano passado. É a chamada “fuga de investidores”.
O estudo revela, ainda, que o Brasil atrairá bem menos dinheiro este ano. Isso porque, os investimentos direcionados ao setor produtivo, geralmente de longo prazo e voltados ao fortalecimento de empresas comerciais e industriais, também sofrerão uma queda: cerca de US$ 49 bilhões (R$ 274 bilhões), ante os US$ 73 bilhões (R$ 408,8 milhões) em 2019.
O país terá um fluxo positivo de investimentos com dinheiro estrangeiro de apenas US$ 11 bilhões (R$ 56 bilhões), valor muito abaixo dos US$ 59 bilhões (R$ 330 milhões) registrados em 2019.
De acordo com as previsões do IIF, que reúne 450 bancos e fundos de investimentos em 70 países, as maiores saídas de capital do Brasil se deram com as ações e outros títulos de empresas. A retirada de investimentos nesses itens chegará aos US$ 18 bilhões (R$ 100 bilhões). Em 2019, foram retirados somente US$ 2,7 bilhões (R$ 15,12 bilhões).
Por que o Brasil sofre com a fuga de investidores?
Apesar da valorização de 40% do dólar frente ao real, o que deixa o cenário perfeito para o investimento externo, já que torna mais barato investir no Brasil, o país vem sofrendo com a fuga de investidores estrangeiros.
Uma das razões dessa fuga é a situação das contas públicas do Brasil, que tem desencorajado o investimento estrangeiro, ao mesmo tempo que tem estimulado os saques. Para os investidores, o risco seria comprar o ativo hoje e o real se desvalorizar ainda mais. Outro risco possível é a Bolsa embicar para baixo em um eventual quadro de desarranjo macroeconômico provocado pelo alto endividamento do setor público.
“A fragilidade fiscal continua sendo o calcanhar de Aquiles do Brasil. Ao contrário de outros países na região, o mecanismo de controle do gasto público brasileiro ainda é muito novo e está para ser testado”, afirma Martín Castellano, chefe do departamento de pesquisas do IIF para a América Latina, referindo-se ao teto de gastos, responsável por limitar a correção das despesas públicas à inflação de 12 meses anteriores.
Castelhano diz, ainda, que “a percepção de investidores sobre a habilidade do governo em manejar a situação fiscal no resto deste ano e em 2021 será fundamental para determinar o comportamento dos investidores mais à frente”.
O cenário das últimas semanas parece ter ampliado a desconfiança dos investidores estrangeiros em relação à capacidade do Brasil de lidar com a situação fiscal, tendo em vista os desentendimentos no governo Jair Bolsonaro sobre manter ou não o teto de gastos para criar programas sociais.
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Para Castellano, devido ao alto do endividamento público do Brasil, ele entrou na pandemia da COVID-19 bem mais fragilizado do que outros países emergentes.
As medidas relacionadas à pandemia como o auxílio emergencial, por exemplo, pago a mais de 60 milhões de brasileiros levaram a uma explosão do déficit estatal e ao rápido aumento da dívida pública, mesmo que a reação do governo e do Congresso Nacional tenha sido considerada efetiva para conter uma queda acentuada da atividade.
Para se ter uma ideia, entre janeiro e agosto, o déficit primário (sem contar juros) do setor público consolidado foi de 12,1% do PIB, representando um salto de R$ 549 bilhões, já que no mesmo período de 2019, esse déficit foi somente de 0,46%. Só o auxílio emergencial pago entre os meses de abril e agosto somou R$ 213 bilhões.
Como consequência, a dívida pública bruta saltou de 75,8% do PIB no final de 2019 para 88,8% em agosto, com previsão de chegar a 95% do PIB no final do ano.
O cenário de alto endividamento tornou o Brasil um dos países mais afetados pela fuga de investidores. Contudo, outros países emergentes também vêm sofrendo pressão por gastos para lidar com a pandemia.
A expectativa é que muitos desses países voltem a elevar a taxa de juros, que hoje está em níveis historicamente baixos, para continuar atraindo investidores estrangeiros.