Na sexta-feira (17), o Instituto de Pesquisas Datafolha fez um levantamento com 1.606 pessoas para saber a opinião delas acerca do uso de cloroquina no tratamento da COVID-19. As entrevistas foram feitas por telefone, para evitar o contato pessoal, e 89% das respostas indicavam que a decisão de usar o medicamento deveria ser tomada por médicos ao invés de políticos.
Enquanto 7% dos entrevistados pelo Datafolha acreditam que os governantes devem dar o aval e os outros 4% não sabem opinar.
A discussão surgiu desde que Jair Bolsonaro passou a defender o uso da cloroquina e hidroxicloroquina em pacientes afetados pelo coronavírus, seguindo o discurso de Donald Trump. O presidente brasileiro acredita que o medicamento deve ser usado para todos os casos da doença. No entanto, a comunidade médica tem aplicado a droga apenas em doentes graves, pois não se sabe ao certo sua eficácia.
Brasil fará estudos sobre o uso da cloroquina
A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) já autorizou 12 experimentos com o medicamento no Brasil. Com o propósito de desvendar a eficácia da droga no combate da COVID-19, os primeiros resultados serão obtidos apenas no final de maio.
Em princípio, as pesquisas acerca do uso da cloroquina, bem como sobre o novo coronavírus, estão concentrados em São Paulo. O estado tem, até o momento, o maior número de casos da doença no país. O principal estudo está sob a responsabilidade do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (HAOC), na capital paulista, encabeçado pelo diretor Álvaro Avezum.
Segundo o médico, em entrevista à BBC News, “a eficácia e segurança (de uma droga) só podem ser confirmadas se você faz o estudo comparativo, o estudo clínico randomizado. Vários países estão conduzindo (testes deste tipo). Se eu trato 100 pacientes com a hidroxicloroquina, mas não comparo com pacientes que não foram tratados, não posso falar em eficácia e segurança. Quando eu pego e trato um número de pacientes, posso descrever o que aconteceu, mas não posso falar que tem eficácia”.
Assim, Avezum explica que em sua pesquisa 650 pacientes vão tomar o medicamento e 650 não vão. “O que vamos tentar demonstrar é se a hidroxicloroquina é útil e eficaz para evitar que o paciente se hospitalize”, pontua. Os efeitos colaterais do uso da cloroquina incluem arritmia cardíaca e possíveis danos à visão e à audição. Mas a hidroxicloroquina é mais “moderna”, portanto, as implicações podem ser mais leves.
No Brasil, a substância já é aplicada em pacientes de lúpus, malária, artrite reumatoide e doenças inflamatórias desde 1950. Para a pesquisa do tratamento dos infectados pelo vírus SARS-CoV-2, o HAOC convidou 100 hospitais em 50 cidades de 14 estados brasileiros a participarem. Outro estudo será coordenado pelo Hospital Sírio-Libanês e trabalhará com 630 pacientes.