No domingo (19), o presidente Jair Bolsonaro participou de um ato no qual os manifestantes defendiam pautas como intervenção militar, fechamento do STF e Congresso e até mesmo a volta do AI-5, que foi uma das medidas mais duras impostas pelo regime militar durante a ditadura no Brasil.
Na manifestação, realizada em Brasília, em frente ao Quartel-General do Exército, havia algumas dezenas de pessoas, a maioria sem máscara e descumprindo as indicações sanitárias recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo próprio Ministério da Saúde.
Em um certo momento da manifestação, Bolsonaro subiu em uma camionete e começou a discursar para os presentes. Durante seu discurso, o presidente afirmou que não iria mais fazer negociações e que iria colocar o Brasil em um lugar de destaque.
“Nós não queremos negociar nada. Nós queremos é ação pelo Brasil. O que tinha de velho ficou para trás. Nós temos um novo Brasil pela frente. Todos, sem exceção, têm que ser patriotas e acreditar e fazer a sua parte para que nós possamos colocar o Brasil no lugar de destaque que ele merece. Acabou a época da patifaria. É agora o povo no poder”, disse Bolsonaro.
O mandatário seguiu sua retórica de que faz parte da “nova política” em oposição à “velha política”. “Todos no Brasil têm que entender que estão submissos à vontade do povo brasileiro. Tenho certeza, todos nós juramos um dia dar a vida pela pátria. E vamos fazer o que for possível para mudar o destino do Brasil. Chega da velha política”, afirmou o presidente.
Ainda no mesmo dia, no período da noite, o presidente compartilhou em seu Twitter a transmissão da live de Roberto Jefferson. Nela, Jefferson afirmava que Rodrigo Maia estaria preparando um golpe contra a presidência da república. É preciso lembrar que Roberto Jefferson teve o seu mandato de deputado federal cassado no ano de 2005. Naquela época, o então deputado estava entre os envolvidos no que ficou conhecido como escândalo do mensalão.
Reação de autoridades
O discurso de Bolsonaro durante a manifestação gerou indignação em várias autoridades, entre elas representantes de entidades, ministros, governadores e até o ex-presidente da república, Fernando Henrique Cardoso.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, comentou sobre o ato em seu Twitter. “No Brasil, temos de lutar contra o corona e o vírus do autoritarismo. É mais trabalhoso, mas venceremos. Em nome da Câmara dos Deputados, repudio todo e qualquer ato que defenda a ditadura, atentando contra a Constituição”, disse o parlamentar.
O ministro do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Mello, chamou os manifestantes de saudosistas inoportunos. “Tempos estranhos! Não há espaço para retrocesso. Os ares são democráticos e assim continuarão. Visão totalitária merece a excomunhão maior. Saudosistas inoportunos. As instituições estão funcionando”, declarou o ministro.
Felipe Santa Cruz, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), também se manifestou: “O presidente da república atravessou o Rubicão. A sorte da democracia brasileira está lançada, hora dos democratas se unirem, superando dificuldades e divergências, em nome do bem maior chamado LIBERDADE!”
Fernando Henrique Cardoso, afirmou que o momento é de união pela defesa da Constituição. “Lamentável que o Presidente adira a manifestações antidemocráticas. É hora de união ao redor da Constituição contra toda ameaça à democracia. Ideal que deve unir civis e militares; ricos e pobres. Juntos pela liberdade e pelo Brasil”.
João Doria (PSDB), governador de São Paulo falou em preservação da democracia: “Lamentável que o presidente da república apoie um ato antidemocrático, que afronta a democracia e exalta o AI-5. Repudio também os ataques ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal. O Brasil precisa vencer a pandemia e deve preservar sua democracia”.
Flávio Dino (PCdoB), governador do Maranhão foi outro governador que se manifestou: “Para desviar o foco de suas absurdas atitudes quanto ao coronavírus e a sua péssima gestão econômica, Bolsonaro resolve atiçar grupelhos para atacar a Constituição, as instituições e o regime democrático. Bolsonaro não sabe e não quer governar. Só quer poder e confusão”.