Um homem de 57 anos, com doença cardíaca e risco de morte, está bem depois de receber um coração de porco que foi geneticamente modificado em uma cirurgia de transplante inédita. De acordo com informações do jornal “New York Times”, este foi o primeiro transplante de coração de porco em um ser humano a ser bem-sucedido.
A operação ocorreu em Baltimore, nos Estados Unidos, e durou cerca de oito horas. O paciente, David Bennett, sofria de uma doença cardíaca terminal, e o órgão do animal era a única opção disponível, pois ele foi considerado inelegível para um transplante de coração convencional. As informações são da Escola de Medicina da Universidade de Maryland.
A Food and Drug Administration dos EUA, órgão similar à Anvisa, emitiu a autorização de emergência para a realização da cirurgia em 31 de dezembro de 2021. A operação ocorreu na última sexta-feira (7/1).
Como isso foi possível
O coração usado para o transplante em Bennett veio de um porco geneticamente modificado fornecida pela Revivicor, uma empresa de medicina regenerativa sediada em Blacksburg, cidade localizada no estado americano da Virgínia.
O animal passou por 10 modificações genéticas. Nessas modificações, quatro genes foram eliminados ou inativados, inclusive um responsável por codificar uma molécula que causa uma resposta agressiva de rejeição humana. Um gene de crescimento também sofreu inativação para impedir que o coração do porco permanecesse crescendo após a realização do transplante.
Foi preciso inserir seis genes humanos no genoma do porco doador. Isso com o objetivo de tornar os órgãos suínos mais toleráveis ao sistema imunológico humano.
Bennett está sendo monitorado
O prognóstico de Bennett é incerto, já que não está claro o que acontecerá com ele daqui pra frente.
O paciente está sendo monitorado de perto por sinais de que seu corpo está rejeitando o novo órgão, mas as primeiras 48 horas, que são críticas, passaram sem ocorrência de incidentes.
Ele ainda está sendo monitorado para o caso de infecções, incluindo o retrovírus suíno. Entretanto, o risco seja considerado baixo.
Uma esperança
Os EUA sofrem com a escassez de órgãos. Para se ter uma ideia, cerca de uma dúzia de pessoas nas listas morrem todos os dias no país. No ano passado, cerca de 41.354 americanos fizeram transplante, sendo que mais da metade deles transplantaram rins, conforme informações da United Network for Organ Sharing, organização sem fins lucrativos responsável por coordenar os esforços de aquisição de órgãos do país.
Em relação aos transplantes de coração, cerca de 3.817 americanos receberam esse órgão de doadores humanos em 2021 como substitutos, mas a demanda potencial ainda é maior. A possibilidade de usar órgãos de animais para o chamado xenotransplante é estudada há anos justamente para atender a demanda por transplantes.
O uso de válvulas cardíacas de porco, por exemplo, já se tornou comum. Em outubro de 2021, cirurgiões em Nova York realizaram um transplante – com sucesso – de um rim de porco em uma pessoa. Ocorre que o transplantado naquela ocasião estava com morte cerebral e não havia esperança de recuperação.